Bogotá - Colômbia - Maio de 2024
COM O HORIZONTE DO ABORTO LIVRE, APROFUNDAMOS A CRIAÇÃO DE REDES COLETIVAS
Nos dias 2, 3 e 4 de maio de 2024, as redes e coletivos que fazem parte da Red Compañera se reuniram novamente para fortalecer e ampliar nossos laços.
Começamos nos oferecendo um mapa de ofertas sobre nosso trabalho aborígine. Reconhecendo os traços coloniais que habitam nossos territórios, oferecemos a nós mesmos objetos que mostram que é possível apagar as fronteiras estatais, tecer as tramas que nos sustentam. Aquelas tramas que sabíamos e sabemos como montar, desmontar, apertar, para nos reconhecermos nesses anos.

Durante três dias intensos de reuniões e debates, 22 redes de 17 países da América Latina e do Caribe se reuniram em Bogotá para preencher com conteúdo os vínculos, as perguntas e as apostas que nos levam a construir essa Rede de Parceiros. Reafirmamos nosso compromisso:
Continuar a construir essa rede como um espaço para politizar o acompanhamento e a ativação de abortos gratuitos, seguros, feministas e legais.
Em uma região marcada pelo crescente avanço da ultradireita e pela criminalização daqueles de nós que lutam e resistem, nos reunimos para analisar como essas mudanças políticas afetam nosso ativismo. E, nessas reflexões, para projetar e compartilhar como continuar construindo práticas e formas de enfrentá-las.
Discutimos os avanços e retrocessos pelos quais estamos passando em nossos territórios em termos de legalização e descriminalização do aborto, eventos que afetam diretamente mulheres, meninas, transmasculinidades e pessoas não binárias em suas possibilidades de fazer um aborto. Esses efeitos são ainda mais desiguais quando se trata de pessoas racializadas, dadas as imbricações de opressões das estruturas de poder existentes. Imaginamos como continuar a pressionar por processos de organização, articulação e lutas para descriminalizar e legalizar o aborto em nossos países.
Olhar um para o outro, apoiar um ao outro, dar suporte um ao outro, construir confiança política para essa luta amorosa: uma práxis e uma pedagogia de ternura radical contra a crueldade da direita conservadora transnacional.
Para as redes e os coletivos que compõem a Rede Compañera, o acompanhamento transforma a experiência solitária e muitas vezes secreta do aborto em uma experiência coletiva e, como tal, em uma ação de cuidado e respeito pela autonomia pessoal em favor da justiça social, sexual e (não) reprodutiva. Ao longo desses dois anos, essa rede cresceu e se sustentou. Durante 2023, 862 acompanhantes proporcionaram acesso a aproximadamente 55.888 abortos seguros. Concretizamos um acesso mais digno para mulheres, crianças, adolescentes, pessoas trans e não binárias que se conectaram conosco e que acompanhamos.

A formação de redes para a ação coletiva é nossa característica fundamental. Estamos interessados na construção de conhecimento situado sobre o ativismo que implantamos e, a partir daí, disputamos significados de outras formas de fazer e práticas. Esse é um desafio teórico e político que nos permite questionar as hegemonias médicas em várias direções: em relação ao processo de aborto em si, em relação às narrativas estigmatizantes e, também, em relação às mudanças nas posições subjetivas por parte do ativismo.

Como planejamos acompanhamentos antirracistas? Quais são e onde estão os modos de empoderamento incorporados na sociedade como um todo e em nossos ativismos em particular? Que conhecimento é produzido pelas redes de acompanhantes trans e não binárias? Quais são as especificidades do acompanhamento de meninas e adolescentes? Algumas dessas perguntas foram levantadas nos círculos de conversas políticas que tivemos. O fato é que o trabalho desconstrutivo também nos move e nos ocupa.

Por fim, nos dedicamos a pensar sobre nossas formas organizacionais e a necessidade de aprofundar o tecido multidiverso que nos une. Vida coletiva, vida ativista, este espaço que está enraizado em genealogias de longo alcance, neste presente que produzimos e no futuro que esperamos.
Na 4ª Assembleia, concordamos que é fundamental insistir:
- Nossa criatividade para enfrentar as adversidades coletivamente.
- O interesse e o compromisso com a organização porque é importante continuar a construir políticas de atendimento e outras narrativas afetivas sobre o aborto.
- A necessidade de garantir às organizações de acompanhamento acesso a recursos flexíveis, adaptáveis e sustentáveis para apoiar seu trabalho, respeitando a autonomia organizacional.
- Vincular nosso trabalho e construir alianças entre organizações feministas com processos e lutas pela descriminalização e legalização do aborto e, para isso, dialogar com a pedagogia, universidades, movimentos sociais, populares, indígenas e comunitários.
- Fortalecer os vínculos entre as redes de acompanhantes de aborto no sul global, pois elas são vitais para combater as desigualdades estruturais existentes no mundo.
- Continuaremos a insistir nos debates necessários para construir essa rede de acordo com nossos sonhos. Reafirmamos que esses debates abriram caminho para continuarmos o processo de sermos uma rede antirracista, anticapacitação, transinclusiva, que organiza suas redes coletivas para acompanhar todas as pessoas que abortam e que aprendemos todos os dias a olhar para as especificidades das pessoas que acompanhamos.