14 e 15 de maio de 2022 nos encontramos novamente as redes e os coletivos que fazem parte da Red Compañera.
Durante a Reunião Regional no Equador, realizada em maio de 2022, as prioridades estratégicas criadas em Lima 2020 foram reafirmadas, e novas ações prioritárias de curto prazo foram propostas, uma vez que as anteriores foram alcançadas.
A principal descoberta: Somos movidos pelos fios coloridos das tramas que tecemos ao longo dos anos, somos movidos pelo desejo de continuar acompanhando e ativando abortos livres, seguros, feministas, legais e completamente descriminalizados em todos os lugares.
Olhamos uns para os outros, sentimos uns aos outros, conversamos uns com os outros, habitando as rondas e as linguagens do aborto e as experiências de acompanhamento; aqui e ali, ali e aqui, tanto onde os processos de legalização são desbloqueados quanto onde a criminalização autoritária se esconde.
Nas fragilidades do tempo de pandemia, contornamos os isolamentos e, longe de parar, revisitamos nossos modos políticos cotidianos para ampliar nossas ações. Permanecer junto àquelas que abortaram e entre os coletivos. Para cuidar de nós em face da criminalização. Pressionar por debates e processos de legalização em nossos países. Em suma, produzir atos de justiça.
Continuamos a construir esse movimento por meio da resistência e dos sonhos. Nosso refúgio e nossa vingança é saber que temos uns aos outros.
Estamos aqui para expandir cada vez mais na América Latina e no Caribe, que será totalmente feminista!
Este documento sistematiza os acordos políticos feitos pelos setenta e seis companheiros que participaram do Encuentro para as centenas de compañeras e compañeres que representamos, aqui reafirmamos a Rede que temos e também os horizontes que queremos continuar construindo:
A rede que criamos:
- Nessa reunião, o desejo convergiu e sentimos que colocamos o no centro. Para resumir algumas de nossas conquistas até o momento: conseguimos incorporar mais redes de acompanhantes, ampliar as convocatórias, realizar a escola 2T, oferecer suporte tecnológico, direcionar transferências de dinheiro para os coletivos e grupos que compõem a rede, fazer encaminhamentos para as pessoas que buscam um aborto por meio de contatos de outros países e mobilizar e influenciar coletivamente em nossos territórios.
- A rede dá visibilidade a grupos que não podem se tornar públicos abertamente. Ela facilita a inclusão de diversos contextos na discussão feminista, a fundamentação de diferentes perspectivas, a reflexão sobre nós mesmas nos discursos da América Latina e do Caribe e o nosso fortalecimento a partir de uma perspectiva política mais ampla.
- A rede é uma oportunidade de se conectar e falar sobre acompanhamento, compartilhar aprendizado por meio de espaços virtuais de treinamento e se abrir para outros colegas para que possamos participar, nos treinar e adaptar nosso conhecimento às nossas próprias realidades.
- A Rede Compañera é, em relação à necessidade de identificação com as redes feministas, a mais forte que percebemos. É uma rede inclusiva que não deixa ninguém de fora. Resgatamos o apoio emocional e o acompanhamento entre coletivos em meio a contextos difíceis, para afastar o medo e a insegurança e não se sentir sozinha.
O que queremos desenvolver:
- Assumimos a tarefa de crescer nos países do Caribe.
- Devemos continuar a nos fortalecer e, para que isso aconteça, é necessário que o trabalho da Rede Compañera possa se tornar uma realidade cotidiana em cada um dos territórios onde há coletivos/organizações/redes nacionais que fazem parte dela. A presença de nossa rede deve estar presente no acompanhamento diário e nos debates políticos que estabelecemos.
- Fazer parte da Rede deve nos permitir desenvolver estratégias conjuntas, entendendo que esse processo não é unilateral. Pelo contrário, ele oferece a oportunidade de todos os coletivos contribuírem juntos com um senso de pertencimento. Para isso, propõe-se redobrar a comunicação entre nós, planejar mais reuniões, convocações, pontos em comum apesar dos diferentes contextos, para nos sentirmos atendidos, ouvidos, fortalecidos e seguros.
- Amplie o aprendizado, escolas como a de segurança holística, que nos permitem proteger e apoiar uns aos outros, e faça um ABC da comunicação para fazer encaminhamentos seguros. Além disso, considere canais de compartilhamento e socialização, como coletar e sistematizar informações com base no aprendizado de outras pessoas.
Nossas projeções políticas
As prioridades estratégicas criadas em Lima 2020 foram reafirmadas, e novas ações prioritárias de curto prazo foram propostas depois que as anteriores foram alcançadas.
Prioridade 1: Fortalecimento da rede de parceiros
Essa prioridade está relacionada ao fortalecimento da articulação regional que estamos construindo, de modo que a Rede possa se tornar uma realidade cotidiana em cada um dos territórios onde há coletivos/organizações/redes nacionais que fazem parte dela. Foram estabelecidas linhas gerais de trabalho sobre esse ponto:
- Comunicação e visibilidade: melhorar os mecanismos de comunicação interna, bem como implementar a estratégia de comunicação externa, com o objetivo de gerar um maior senso de pertencimento à rede e, ao mesmo tempo, tornar nosso trabalho e nosso discurso sobre o aborto livre e o acompanhamento do aborto visíveis como atos políticos além dos fundamentos e das leis.
- Ampliação: Mapeamento de redes de acompanhantes no Caribe, bem como aumento do número de acompanhantes nos coletivos que fazem parte da Rede Compa.
- Fortalecimento e organização interna: Treinar acompanhantes para aprofundar a profissionalização do trabalho de aborto, por meio de espaços virtuais e presenciais, bem como apoiar a geração e a distribuição de fundos emergenciais, locais e regionais.
Prioridade 2: Acompanhar uns aos outros para nos acompanhar
Essa prioridade se refere à capacidade de gerar espaços de intercâmbio, aprendizado conjunto e fortalecimento das capacidades de todos os coletivos/organizações/redes locais que compõem a Rede de Parceiros, o que nos permitirá melhorar a maneira como acompanhamos nossos territórios.
Também faz alusão ao acompanhamento das ações políticas e de incidência pública em cada país regionalmente como Red Compañera, quando há debates sobre a possibilidade de progresso ou retrocesso em relação ao aborto. E, finalmente, refere-se ao processo pelo qual a confiança gera apoio, intercâmbio, força e a possibilidade de ver nas ações de todos nós nosso alcance regional para garantir o aborto em cada território. As linhas gerais desse eixo são:
- Segurança e cuidados: Criar estratégias de resposta em tempo hábil para situações de criminalização e risco para organizações que fazem parte da Rede.
- Treinamento: Trocar conhecimentos a partir da experiência de cada grupo para resolver as necessidades locais.
- Acesso: Ampliar as possibilidades e condições de acesso a abortos acompanhados.
- Co-acompanhamento: Gerar processos de diálogo entre os acompanhantes para responder a perguntas durante o acompanhamento.
Prioridade 3: geração de conhecimento
A partir da Rede Compañera, queremos estar em espaços regionais e globais de tomada de decisões. Espaços políticos onde o conhecimento relacionado ao aborto está sendo discutido e debatido. Por exemplo, nas atualizações das diretrizes da Organização Mundial da Saúde. Esse componente se refere à capacidade de gerar: publicações conjuntas; sistematização de dados regionais sobre o aborto; evidências de nossa prática diária como provedores de aborto medicinal; conhecimento que nos permita recuperar o aborto como uma prática natural e cotidiana e criar um discurso positivo em torno dele. Por esse motivo, será promovido o seguinte:
- Espaços para treinamento, intercâmbio e diálogo político: Gerar espaços para o intercâmbio intergeracional entre os grupos, para a resolução de conflitos e estratégias de treinamento para os acompanhantes.
- Processos de sistematização e coleta de informações dos coletivos: Gerar um repositório digital com o material produzido pelos coletivos da Rede.
A equipe que materializará essas projeções é o Grupo Impulsor, ratificado nessa assembleia para continuar seu trabalho até a próxima reunião regional, daqui a dois anos. Reconheceu-se a importância da integração das equipes dos países, tanto das Socorristas en Red como com os amigos e em casa (que no momento tinham apenas um membro no GI), e nesse sentido elegeram mais um companheiro para fazer parte do GI.
